O livro em quadrinhos Machado de Assis: “Caçador de Monstros” é uma experiência artística na qual há profundas transgressões nos limites entre a cultura erudita e cultura de massa.
Assim, os leitores que conhecem a obra de Machado e sua biografia e os que não conhecem encontrarão diferentes formas de prazer na leitura.
Para os que conhecem, fica evidente a capacidade criativa deste trabalho ao unir falas, momentos da vida do autor, concepções filosóficas ironizadas por Machado com momentos de aventura e suspense que caracterizam esse gênero de publicação. conte
Para aqueles que estão conhecendo agora a produção literária, jornalística e a vida do considerado maior escritor da literatura brasileira, essa história é uma fantástica porta de entrada, livre do exagerado academicismo e interpretações radicalmente teóricas que geralmente construiu a errada idéia que Machado é um escritor para poucos.
Nessa história em quadrinhos escrita por Marcelo Alves e com arte de Sami Souza, Machado de Assis é apresentado com um jovem escritor que vive no Rio de Janeiro da década de 1860 quando ocorre uma série de estranhos assassinatos.
Nesse universo de suspense, Machado passa a investigar essas mortes com auxílio de seus personagens das obras literárias, tais como Brás Cubas, Quincas Borba e outros.
Ao mesmo tempo, o jovem Machado de Assis é auxiliado por outro personagem machadiano, Conselheiro Aires, na luta contra os monstros que pretendem implantar a Ordem da Noite Eterna no Brasil.
Assim como ocorreu com obras nas quais escritores e personagens históricos passaram agir ficcionalmente ou em lugares reais, os leitores podem percorrer as ruas do Rio de Janeiro dos anos sessenta do século XIX e sentir suas ambiências e características.
Isso permite que essa HQ abra um outro caminho, já experimentado por produções ficcionais no qual as cidades como Londres, Paris e outros grandes centros do século XIX sejam vivenciados por meio de sensações despertadas pelo narrativa ficcional.
Essa história representa uma grande contribuição para uma nova postura em relação ao lugar de Machado de Assis no imaginário brasileiro.
O processo feito para estabelecer Machado como o maior escritor de todos os tempos criou uma imagem de um escritor carrancudo, inteligente, um legítimo representante da alta cultura que não tem nada a ver com a maior parte da população.
Um uso de gênero artístico da cultura de massa como a história em quadrinhos permite transgredir tais limitações imposta por mais de cento e cinquenta anos na cultura brasileira.
Por esses motivos, afirmamos que a recepção de Machado de Assis: caçador de monstros não é uma simples leitura de HQ, mas, sim, a realização de uma radical hibridização cultural que sentimos falta hoje.
Atualmente, há muitos discursos sobre a necessidade de quebrar as fronteiras impostas pela elitização da literatura e poucas ações. Marcelo Alves e Sami Souza conseguem realizar tal desafio com criatividade, leveza e talento nessa fantástica narrativa transmídia.
Autor do artigo: Luiz Antonio Silva, Graduação em História na UERJ. Mestrado e Doutorado em Estudos de Literatura PUC-Rio. Doutorando em História Social no IFCS – UFRJ e professor nas Faculdades Souza Marques.
Produzimos livros em quadrinhos e desenvolvemos projetos culturais para o setor da Economia Criativa.